Chuto pedras pelo caminho.

Rafael Tavares Dias
1 min readSep 4, 2021

Caminho pelas ruas chutando pedras que encontro.
Encontro pedras nas ruas e chuto pelo caminho.
Chuto pedras pelo caminho.
Caminho pelas ruas chutando pedras que encontro.

Sempre esqueço-me das pedras que chutei.
Um dia hei de joga-las nas cabeças de quem as colocou no caminho.
Jogarei pedras.
Jogarei pedras em quem impede o caminho.
Em quem impede o nosso caminho jogarei pedras.

Verão de 2017, Marília.

Uma paródia do famoso poema de Drummond de Andrade. Na altura daquele ano, escrevia enquanto me preparava para ir à Brasilia protestar contra o governo de Temer, cuja viagem não recordo integralmente, se não de ter vivenciado um cenário de guerra que me trouxe muita experiência tática. No fim daquele dia, Temer assustado, de dentro de seu palácio, pede ao exército uma intervenção militar, que se apresentou desnecessária pelo esgotamento das forças militantes naquele dia, dada o esforço interno de superar o peleguismo, esse parasita que vive nas entranhas da classe trabalhadora. O saldo ainda foi impressionante, MTST furou o bloqueio da polícia, black bloc receberam palmas, 1 viatura queimada, 3 ministérios incendiados, inúmeros muros tomados por latinhas de tintas e sonhos, um número altamente expressivo de lutadoras e lutadores encarando cavalaria, viaturas com balas de borracha e 2 helicópteros armados com bombas de gás lacrimogênio, de gás pimenta e de efeito moral. Infelizmente, um combatente tombou quando alvejado covardemente por um polícial que usava arma letal. Hoje, às vésperas de 7 de setembro, com a ameaça bolsonarista de golpe de Estado, me recordo daquele ano. Permanece a promessa de pedradas.

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