Como voar

--

Alcancei com os dedos uma foto que planava no ar
Nele havia uma lista de itens necessários para voar.
Era necessário um pouco de fome, algumas dívidas,
Uma janela no sétimo andar e pensamentos suicidas.

O manual relatava o gotejo do suor do rosto ao degrau
Resultado direto de subir as escadas até o andar final.
Relatava o espatifar da gota encontrando seu destino
E imaginar-se no asfalto vomitando seu vazio intestino

Explicava que abrir a janela do edifício foi uma guerra
E o parapeito estreito do prédio que facilitou o caminho.
Terminava em desculpas dizendo: “Todo mundo erra”.

Por fim, livrou os bolsos e fez chover moedas e a fotinho.
Era um retrato de seu amor com o verso escrito em terra.
Estendeu os braços em direções opostas. Voou, passarinho!

Alcides Liberto

Setembro de 2020, Marília

--

--