O passarinho e a gaiola.

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Uma menina um passarinho me deu.
A vida dele durou só um momento,
Mas pode sentir o gosto do que viveu:
Sabor agridoce, néctar de sofrimeto.

Quebrou a casca de ovo, amor meu.
Sua cantoria de prazer e lamento.
De noite voava no meu quarto em breu.
Nunca cairá em esquecimento.

Seu grito-melodia me queria como abrigo.
Por isso até o céu você negaria — que castigo!
Mas, passarinho, para ficar comigo?

Seu amor fechar-se-ia sem portinhola.
Eu não deixaria, pois amor nenhum controla.
E sua pluma nacarina não merece gaiola.

Inverno de 2021, São Paulo

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